domingo, 12 de abril de 2009

TEMPO DE REFLEXÃO POR UMA NOVA ESCOLA

É minha convicção, alimentada desde há muito, que a Escola é, hoje, um espaço de alguma desilusão e de acentuada frustração profissional. Eu diria que a característica impessoal tomou conta da Escola. Genericamente, a Escola perdeu alma, não tem poesia, é servida fria, desde logo por uma arquitectura desadequada, pelo excessivo número de professores, alunos e de auxiliares de educação que os espaços comportam. É a Escola onde poucos se conhecem, porque esventrada de valores que a unam. É a Escola do toca-entra-toca-sai. É a Escola maximizada e padronizada, pensada, ainda, à imagem da Sociedade Industrial. É a Escola de actividades ritualizadas, que não interagem com a sociedade e sobretudo com a vida. É a Escola fechada sobre si própria que relega os valores da iniciativa, criatividade e responsabilidade. É a Escola burocratizada, da legislação em catadupa, que subsiste no meio de papéis inúmeros. É a Escola das iniciativas que caem em cascata, onde pouco interessa o porquê e para quê, traduzidas no dia disto e daquilo, nos projectos disto e daquilo e nos concursos disto e daquilo. Hoje, chuta-se tudo para a Escola, convencidos que estão, que é por aí que a qualidade e o sucesso emergem. Hoje, na Escola, não há espaço para a liberdade, tempo para a opinião, para o debate, para a reflexão, para a leitura do mundo, para o projecto educativo articulado e sério e para a aprendizagem dos saberes consequentes e portadores de futuro. É a Escola de virtual autonomia administrativo-financeira, que sobrevive e, portanto, com limitada capacidade de afirmação. É a Escola distante da necessária e verdadeira autonomia pedagógica que a conduza a diferenciar-se das demais, pela imaginação, inovação e cultura gestionária própria. É a Escola do controlo vertical, da incultura, da má educação e da crescente violência, dos comportamentos inadequados e da desresponsabilização dos pais. É esta Escola que conduz os docentes à exaustão. Porque é a Escola, também, do aviltamento da função e da falta de respeito pelos percursos profissionais dos educadores e professores.
Na Escola de hoje cumpre-se, ritual e formalmente, o que Rubem Alves, esse notável pedagogo, teólogo, psicanalista e escritor sublinhou: “para a burocracia, o que interessa é o que vem no relatório, não as crianças”. Interessa, pois, o cumprimento apressado do programa, o sumário, o dossiê de turma, a interminável sucessão de repetidas reuniões, do pedagógico aos grupos disciplinares passando pelas dos departamentos, muitas caracteristicamente de pescadinha-de-rabo-na-boca que nada adiantam, interessa a acta, interessa que tudo esteja muito certinho, não vá uma inspecção dar com qualquer coisa fora do lugar. As crianças, essa razão de ser da Escola, estão a ficar para depois. De onde provêm, que constrangimentos familiares, económicos, espaciais, culturais e religiosos transportam, pouco interessa. O insucesso remedeia-se com mais uma aula de apoio acrescido, quando é possível.
Ora, é isto que sinto. Porventura sentem muitos Colegas. Andamos todos cansados, dos mais novos aos mais velhos. Também aqui, no sentido de fazer emergir uma ESCOLA onde toda a comunidade se sinta feliz, o SPM tem uma luta a desenvolver. Nós estamos apostados nisso. Queremos a ESCOLA seja DEMOCRÁTICA, AUTÓNOMA, INCLUSIVA, DE QUALIDADE, DE EXCELÊNCIA e onde todos os Colegas desenvolvam a sua missão em liberdade.
André Escórcio
Mandatário da Candidatura ALTERNATIVA SPM